14.7.08

Guardiões












Há algum tempo realizei um trabalho numa das comunidades mais violentas de Recife. Lá conheci uma pessoa muito especial que me contou que tinha o sonho de levar livros para todos, pois acreditava que através da leitura seus amigos poderiam conhecer outros mundos, outras possibilidades de vida e, assim, saírem do mundo das drogas e do crime. Falou que sonhava com um carrinho de mão cheio de livros e imaginava-se circulando pelas ruelas estreitas e todos pegando livros para ler.
Como também sou apaixonada pela leitura, resolvi ajudá-lo a realizar seu sonho. Comprei uma estante, livros, gibis, giz de cera; arrumei, também, caixas e fichários. Doei tudo para ele, incentivando-o a ir em frente e dando-lhe o nome de guardião.
Descobri que era um poeta maravilhoso, retratando com seus poemas a realidade da comunidade.
Um dia desses, meu celular tocou e recebi o convite para a inauguração da Biblioteca Popular Guardiões da Literatura. Chorei emocionada. Ele havia se superado. Fui lá, hoje, conhecer de perto o local sagrado e, devo confessar, fiquei em êxtase. A Biblioteca está instalada numa pequena palafita à beira do mangue – sua antiga casa. A estante doada está lado, bem como os livros. Mas o acervo já é muito maior, com doações de toda a comunidade. Crianças e jovens estavam sentadas pelo chão, cujas brechas nas madeiras do piso possibilitavam o olhar para o mangue. As paredes estavam recobertas com jornais e aqui e acolá apareciam recortes de poesias escolhidas a dedo. O banheiro tinha como porta um pedaço de chita colorida. Um lindo banco, achado no lixo, havia sido todo pintado criativamente e acolhia os visitantes. Havia um tapete de mariscos na entrada e o cheiro da maré invadia o ambiente. O mais importante disso tudo era a energia do lugar, cheio de alegria e entusiasmo.
Lembrei-me da frase ‘’É dos sonhos dos homens que uma cidade se inventa”. Que tenhamos mais coragem para sonhar e realizar!

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