4.9.08


















Tive outra experiência mágica. Minha vida anda cheia delas. Participei do curso do Programa Nacional de Gestores Ambientais, na sua última fase em Pernambuco. Nesta etapa, nove, das dez etnias indígenas pernambucanas, fizeram-se representar. Havia caciques e outras lideranças das diversas aldeias. Trouxeram seus apetrechos indígenas e andavam de cocares, colares, apitos, maracás, lanças e caras pintadas.
Todos ficaram hospedados num hotel campestre, em regime de reclusão. A cada dia, antes das aulas começarem, os índios faziam um ritual e explicavam que era assim que faziam nas tribos deles. Invocavam Tupã e outros deuses e diziam que o Deus era um só. Cantavam músicas na língua nativa. Imitavam o som dos pássaros. Ensinaram-nos que tudo na natureza tem vida, tem espírito, e, por isso, uma árvore não é apenas uma árvore, mas algo sagrado, uma irmã que compartilha a vida aqui no Planeta Terra, nossa mãe.
Lembrei-me da Carta do Cacique Americano. Lembrei-me de Francisco de Assis, Lembrei-me de Chico Mendes. Todos defenderam as mesmas idéias que agora a ciência consegue provar como verdadeiras. O Universo é todo energia e tudo está conectado.
E como se resiste a essas verdades. Lá, no encontro, eles prestaram uma homenagem a um parente, é assim que chamam os índios das tribos diferentes das deles, que havia sido assassinado por brancos numa luta pela posse da terra. Crime encomendado, coisa de pistoleiro. Desde 1500 é assim. Será até quando?
Na quinta-feira à noite organizaram um ritual ao redor da fogueira. Dancei até tarde junto com eles, em círculo, porque dançam assim, moram assim, e nos mostram que na vida não há hierarquias, ninguém é melhor que ninguém, e que a mandala é a forma perfeita para captação da Energia do Grande Espírito.
Na sexta, pela manhã, fui assistir a uma defesa de Mestrado. Tive um choque cultural. Tudo precisava ser provada pela razão. A lógica reinava soberana. E me dei conta de que tudo aquilo ali seria incapaz de explicar o que eu havia sentido e vivido na noite anterior. O mundo civilizado ainda não tem as ferramentas cognitivas, termos científicos, para compreender a sabedoria de uma cultura que vive tão intimamente conectada com a Natureza.
Há de se aprender com os indígenas.

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