9.3.09

Conversei hoje com uma amiga que é psicóloga e trabalha como funcionária púbica. Ela estava triste porque o dinheiro é pouco; perguntei-lhe se não gostaria de trabalhar uma parte do dia em consultório, pois teria uma renda extra. Segredou-me que adoraria mesmo era trabalhar com arte, um sonho de menina que nunca realizou.
Lembrei-me, então, de outras amigas e amigos com outros sonhos de infância que nunca foram realizados. Uma, trabalha com computadores, mas gostaria de ser arquiteta; tem outra que é professora e leva o maior jeito com moda. Conheci uma pessoa na minha adolescência que queria ser geólogo porque amava o contato com a natureza. Hoje é engenheiro, ou melhor, dono de uma empresa que constrói edifícios e vive trancado em seu escritório, talvez, apreciando o pôr do sol pela janela fechada por conta do ar-condicionado. Convivi também com um excelente técnico em informática que dominava completamente a lógica dos computadores e que sonhava ser fazendeiro; adorava o cheiro da bosta do gado e ficava horas contemplando cavalos. Soube que continua trabalhando com tecnologia e que seus ombros estão curvados, imagino eu que não resistiram ao peso de seu cotidiano. Um outro amigo trabalha com eletrônicos e dá aula até tarde da noite, mas adora mergulhar e fazer trilhas de bicicleta; precisa sentir seu corpo em movimento e passa seus dias num ritmo lento, tão lento quanto seu andar quase sem vida.
Pensei no meu percurso. Quando pequena sonhava ser aeromoça para poder viajar muito e conhecer lugares diferentes. Depois quis ser freira e trabalhar na África em missões religiosas. Viajei muito pouco e de freira não tenho coisa alguma, já que casei três vezes. Adorei livros desde muito cedo e desejei viver no meio deles, mas fui trabalhar com tecnologia e, depois, como psicóloga. Tenho filhos e pessoas que ainda dependem dos meus cuidados e justifico assim o desvio que fiz no meu caminho.
Em que bifurcação da estrada de minha vida tomei o rumo errado? Por trás de que árvore abandonei meus sonhos de menina? Por onde deixei meu coração? Quando vendi minha alma ao diabo? Será que ainda dará tempo?
Era uma vez...

Nenhum comentário: