24.3.09

Minha filha, estudante de jornalismo, veio me perguntar ontem o que tinha acontecido com meu post no blog. Respondi que havia escrito logo cedo e que não tinha dado tempo de terminá-lo nem de relê-lo.
- Mãe, quando a gente não termina o texto a gente não posta, né?
Entendi a crítica. Comentou que não tinha pé nem cabeça o que havia escrito. Havia descrição, saltava de um assunto para outro sem coerência e nada de reflexões e ponderações sobre tudo aquilo. Concordei com ela e achei a maior graça sua indignação. Comecei a me apaixonar por aquelas frase desconectadas só pela reação que tinha provocado nela.
Expliquei que a narrativa, contando detalhes do cotidiano, era com o propósito de dizer que acho que somos felizes na simplicidade do dia-a-dia. É no tomar água, suco ou vinho, no dormir abraçadinho, no tomar um banho bem quente, no jantar juntos e conversar sobre tudo. Tentei traduzir essas coisas todas que sinto quando descrevi as viagens e alegria da amizade.
O outro lado da mesma moeda, ou seja, da vida, é que apesar de todas essas maravilhas que nos fazem felizes, há muito que transformar para o mundo ficar melhor.
Foquei no passeio pelo parque de meu bairro e na questão do lixo. O parque é lindo e está tão abandonado. Fui, com meu marido, dar uma olhada para ver o que precisa ser feito já. Ele está exercendo uma função pública e se já era ligado na qualidade de vida dos trabalhadores da cidade, agora só pensa nisso o tempo todo, pois pode, de fato, fazer alguma coisa. Conversamos com freqüentadores que reclamaram do abandono, sugeriram campeonatos de futebol e falaram que ‘o homem’ precisava olhar por aquele local de lazer. Ao contar este episódio para meus filhos, comentaram que mal sabiam eles que falavam com um legítimo representante do ‘homem’, ou melhor dizendo, do poder público municipal. Anotamos nomes de ruas onde o lixo estava espalhado e muitas observações e idéias para melhorias do lugar. Saímos de lá e fomos para a Praça de Casa Forte, um local maravilhoso, para ler os jornais do domingo, sentados à sombra das árvores. Neste momento já estávamos, de novo, no outro lado da moeda, no lado da vida onde tudo é doce porque há amor. Não dá para descrever a harmonia dos pássaros cantando e tomando banho nos muitos lagos que existem, a beleza das vitórias-régias, o som do vento nas folhas das árvores, a canção vinda dos gritos de alegria das crianças brincando e correndo atrás de seus pais ou de outras crianças e, principalmente, o meu contentamento ao me perceber lendo jornal numa praça ao lado do meu amado. Tudo muito simples e pleno.
De volta para casa, viramos novamente o lado da moeda e continuamos nosso estudo sobre o lixo urbano, pois estamos muito ligados nessa problemática. Confesso que fiquei chocada e comecei a imaginar que o mundo vai acabar não por conta dos cataclismos previstos pelos místicos, mas porque vamos todos morrer soterrados por montanhas e mais montanhas de lixo. Imaginei a cena e quase tive uma crise de riso, riso histérico, é verdade, porque o trágico quase sempre se torna cômico. Então, começamos a pensar no que poderia ser feito para minimizar os efeitos catastróficos do lixo que produzimos. Fui dormir com minha cabeça fervilhando de idéias e perguntas.
Bom, então foi isso que aconteceu e que deu origem ao post maluco de ontem, segundo minha filha. Para terminar os esclarecimentos, quero dizer que é exatamente o movimento de mudar o lado da moeda que dá ritmo a minha vida, preciso dos dois lados, preciso do belo para reabastecer minhas energias e preciso dos desafios da vida para colocar essas mesmas energias para fazer a parte que me cabe nesse latifúndio.
Costumo dizer que São Pedro, o santo que tem a chave de entrada do Céu, perdoa tudo: gaia, violência, roubo. Só não vai perdoar a gente ter desperdiçado a oportunidade de, em vida na Terra, expressar o Dom que o Sagrado botou na gente para que fosse desenvolvido por aqui e na hora da volta estivesse bem melhor do que quando chegou. Por acreditar nessa historinha, tento viver o meu Dom, assim, virando e revirando os lados da moeda, da mesma moeda, filha, da moeda que é a minha vida.

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