12.7.09

Continuo me encantando com o Sagrado que se expressa na natureza. Talvez, não consiga abandonar o meu olhar de criança descobrindo o mundo.
Estava deitada na cama, ouvindo a música do balanço das palhas dos coqueiros que circundam minha casa. De repente, o sol foi mudando seu caminho e percebi um dourado lindo iluminando as folhas verdes que dançavam ao vento. Pensei:
- É tudo perfeito, mesmo!
Hoje, já em minha outra cama, vi o sol acordar e me deslumbrei com o azul do céu e suas nuvens brancas que refletiam uma luz fluorescente. Os pássaros saudavam o novo dia com uma sinfonia maravilhosa. Mais uma vez:
- É tudo perfeito, mesmo!
E esse espetáculo se renova a cada dia. Por que não o observamos? Por que não aproveitamos o dia de hoje para ser feliz?
Só temos o presente como presente da vida. Meu pai estava bonzinho e, de repente, teve um AVC. Mais nunca foi o mesmo. Minha mãe jantou com a gente, foi dormir e não acordou jamais. Minha tia foi ao banheiro, sentou-se no sofá e permaneceu em coma por dois anos, deitada em uma cama.
Quase sempre, pela nossa dificuldade em lidar com a morte e com a finitude, jogamos o que queremos fazer de verdade embaixo do tapete e fingimos que vamos ter todo o tempo do mundo para, um dia, quem sabe, realizarmos nossos sonhos.
Quando é que vamos dizer ‘te amo’ ou ‘me perdoe’, ou ainda, ‘senti tanto sua falta’?
Às vezes, deixamos a dor e o rancor tomarem conta de nossas vidas e perdemos pelo caminho pessoas e coisas que nos são importantes. O tempo é agora. Não sabemos quando nossa amiga, a Morte, vai passar e nos arrematar para seu rio de águas profundas.
Costumo dizer que São Pedro, na hora de nossa passagem pela porta do céu, vai perdoar tudo: gaia, assassinato, roubo, preguiça. Só uma coisa ele não vai admitir: não termos desenvolvido, aqui na Terra, o Dom que nos foi confiado pelo Sagrado. Poxa, é um pedaço do Universo que vem com cada um que nasce para que esse taco evolua e, com isso, o Todo também fique mais harmonioso. A responsabilidade é grande. Ficamos arrumando desculpas para esconder de nós mesmos essa grandeza e dizemos:
- Amanhã eu começo, o novo projeto, o novo amor, o novo trabalho, a nova alimentação, a nova vida.
E se não houver amanhã?
O Mistério nos rodeia o tempo todo e nos cobra a Entrega completa à vida. Precisamos confiar e deixar que a Energia Cósmica faça através de nós o seu trabalho no mundo, como diz Sandra Celano, expressando uma idéia que adoro repetir.
Se não aprendemos pelo amor, com certeza, vamos aprender pela dor. Quando a dor chega e nos derruba, no lugar de procurar entendê-la e descobrir qual lição nos está dando, jogamo-nos na cama, enfiando a cabeça nos travesseiros, como a avestruz enfia a cabeça na areia, e tomamos mil remédios para fugir da realidade que nós mesmas construímos em nossas vidas. Mas o efeito das drogas não dura para sempre e, quando passa, temos que encarar novamente nossa droga de vida.
Cada novo dia é um convite para que nos entreguemos à vida e nos deslumbremos com a beleza de cada detalhe que foi planejado para que tudo no Universo flua em harmonia.
Eu, com meus limites, tenho tentado me jogar na vida com a confiança de uma criança: se Ela me chama, eu vou. Nem sempre é fácil. Às vezes, estou sentada em minha zona de conforto e Ela me tira dessa posição, empurrando-me para novos começos. E lá vou eu, de novo, enfrentar novos desafios, aprender coisas diferentes e perceber detalhes lindo que ainda se mantinham escondidos para mim.
Quando for o momento de minha passagem para o lado de lá, irei tranqüila. Vivi a vida que quis, não vou carregar na bagagem o remorso por não ter seguido minha Alma. Mas, confesso, levarei em meu coração uma enorme saudade desse planeta maravilhoso que me acolheu em sua plenitude, revelando-me seus segredos mais secretos. Lembrarei para sempre do calor do sol sobre meu corpo, da delícia que é um banho de mar em águas mornas, da paciência das árvores seculares de ouvirem nossos sonhos, do canto dos pássaros e da beleza de seus vôos de liberdade, do doce sabor da jabuticaba em minha boca, da meladeira ao chupar um caroço de manga sentada em um banco de madeira.
Também sentirei saudade das minhas coisas. Como é delicioso aguar o jardim e sentir a grama verde sob meus pés! Como é fantástico descobrir o mundo invisível dos insetos, escondidos por entre as flores e os frutos que enchem de cor e perfume aquele pedaço sagrado de terra. Não irei mais tomar suco de laranja, café com pão, leite com sustagem. Não sentirei mais a água bem quente na hora do banho. Não ouvirei mais música, nem poderei cantar para meus filhos dormirem. Não tomarei chá com meu pai. Não lerei meus livros mágicos. Não farei mais amor com minha outra metade. Tudo isso ficará por aqui. Levarei comigo, aí, sim, as lembranças de todos esses momentos amados que seguirão para sempre marcados em minha Alma.
Partirei sem medo, pois fui inteira, sem excluir nada de mim. E, de verdade, se alguém contasse para mim a história da vida que vivi, eu iria querer experimentar a vida contada, cheia de altos e baixos, de fins e começos, mas cheia de amor, alegria e coragem.
Será este texto apenas uma reflexão ou será uma despedida?
Acredito tanto em sinais...

2 comentários:

Psibuscando disse...

Não consegui ler tudo o que você escreveu, mas posso garantir que o pouco que li me encantou, cada texto que leio quero continuar e continuar lendo, só que é muita coisa e os afazeres às vezes me impedem de continuar, mas ESTOU ENCANTADA!!!!!
Parabéns.

Louise Anne Vieira de Menezes disse...

Estou sentindo falta da escritora. O que você escreve sempre tem algo que toca profundamente o meu coração. Não deixe de escrever, principalemente agora. Continuarei seguindo você.
DEUS a abençoe.
Beijos em seu coração com todo o meu carinho.