26.7.09




Fotos: Roberto Arrais


Minha filha brinca sempre comigo dizendo que sou a única mulher que conhece que teve um namorado, dois ex-maridos e três maridos. Realmente, é um percurso diferente da maioria e, quando me permito refletir sobre ele, fico feliz pelas maravilhosas oportunidades que tive para amar, porque amei muito cada um deles e compartilhamos juntos momentos inesquecíveis para mim. Foi com eles que pude confirmar a lição aprendida com meu pai e meu irmão: os homens prestam, sim.
Acredito que o que nos conecta no Universo, com nossas diversas experiências é a energia que emanamos. Por isso, se estamos numa freqüência mais leve, mais sutil, atrairemos uma energia semelhante para nossas vidas. Procuro, nem sempre consigo, vibrar em coisas boas. Não gosto de assistir a filmes de violência, não vejo aqueles famosos programas de TV que mostram crimes, assassinos e estupros. Apesar de evitar esse tipo de coisa, não me furto de conviver com as sombras, as minhas e as dos outros, e tenho amigos de verdade que hoje vivem em presídios por terem matado outras pessoas.
Mas, voltando ao ponto dos meus ex, percebo o quanto ainda os amo, mesmo que de uma forma diferente do amor que senti e que me dava vontade de tê-los como companheiros nessa viagem incrível que é a vida. Claro que a marca de ex faz com que todos eles estejam associados a momentos de muita dor. Não existe separação sem sofrimento e sempre disse para amigas e amigos que ‘não desejo isso para meu inimigo’ e ‘só sabe, quem passa’. Porém, sou grata a cada um pelos carinhos trocados, pelas descobertas favorecidas pelas intervenções deles, e, principalmente, por terem me ajudado a me tornar uma pessoa melhor, mais inteira, mais verdadeira. Vivi com eles fases diferentes e reconheço que todos esses relacionamentos deram certo, só que para aquela etapa em que estávamos lado a lado.
Não poderia ter continuado o namoro quando já deixara de ser menina e ansiava por me tornar mulher, mas como fui feliz nessa relação que durou quase seis anos. Aprendi o que era amar e ser amada, o que era um colo. Até hoje me lembro, com detalhes, dos segredos que compartilhamos. Veio a minha primeira grande metamorfose e a ruptura foi inevitável.
Comecei minha vida profissional, faculdade, trabalho, liberdade. Livrei-me das amarras da censura religiosa e caí no mundo, sedenta de aventuras. Descobri o calor de quarenta graus, a independência, a alegria. Casei-me e junto com meu marido realizei muitos projetos. Aqui achei que tinha o controle do roteiro de minha vida nas mãos. Nasceu nossa filha e o chamado da mulher que existia em mim soou mais alto do que qualquer outra coisa. Já não queria mais o mundo do sucesso profissional, da exatidão dos computadores. Queria conhecer as pessoas no que sentiam por trás das aparências. Nova metamorfose, outra ruptura, muita dor.
Nessa etapa de minha vida, fui para o fundo do poço. Violentei-me, sofri muito mais do que fora capaz de imaginar. Fiquei muito só e me percebi despreparada para enfrentar algo tão grande, pois o monstro que tive que enfrentar era muitas vezes maior do que eu.
Transformei muitas coisas e me permiti recomeçar. Novo marido, dois filhos, nova profissão, nova forma de trabalhar. Até parecia que a vida tinha entrado nos trilhos e que a calmaria desse caminho iria me acompanhar até a hora de passar para o lado de lá.
Aprendi sobre os mistérios do mundo espiritual, manifestei na Terra a Energia do Sagrado. Quando integrei esses conhecimentos à minha Alma, uma nova metamorfose aconteceu e saí mais uma vez da zona de conforto. Percebi que chegara a hora de integrar todas as minhas aprendizagens ao longo da jornada percorrida numa experiência única: queria amar e ser amada, queria a alegria e a independência, queria a energia feminina se expressando por todos os meus poros, queria transbordar para todo o planeta a provisão de amor com que fui sendo abastecida pela vida afora. Chegara o momento de a lagarta virar borboleta mais uma vez.
Outra separação, muita, muita dor, muitas perdas. Perdi marido, lares, amigos. Mas resgatei-me e segui feliz o meu caminho. Então, já que cuidara do meu jardim com carinho e respeito, escutando sempre os sinais do Universo, Ele me enviou um presente maravilhoso e pude, finalmente, encontrar o meu par nessa vida. Agora caminhamos juntos e nos metamorfoseamos juntos também.
Mas, por amá-lo muito no meu presente, posso dizer que não amo mais os que foram tão importantes no meu passado? Claro que não. Hoje, se tirasse na Sena, ajudaria cada um deles a realizar seus sonhos por aqui: ao namorado, daria um Passat vermelho e uma asa delta; para o primeiro ex, uma fazenda cheinha de bichos com filhotes; para o segundo ex, uma lancha e um apartamento na beira-mar do bairro mais chique da cidade. O engraçado é que essa é minha percepção do que eles gostariam de ter a partir de minha convivência com eles à época do amor que vivemos. Com certeza, hoje estão diferentes e não sei mais quem são e quais os seus sonhos. Mas gosto de sentir que os guardo num cantinho especial do meu coração e que reverencio as histórias que compartilhamos juntos.
Se agora sou uma pessoa melhor, uma mulher mais bonita, devo muito desse processo de transformação a cada um deles, pois foi através de nossos relacionamentos que fui sendo borboletas, claro que diferentes, como novas cores, experimentando novos jardins, mas sempre uma ‘metamorfose ambulante’.

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