3.8.09


Era uma vez um rei muito poderoso e muito triste. Os seus súditos o adoravam porque era muito bondoso. Mas, apesar de se sentir querido por todos, vivia numa imensa solidão.
O rei gostava muito de pintar as belas paisagens de suas terras. Registrava flores, pássaros, árvores, frutos, animais. As paredes do castelo eram cobertas com as telas onde rei colocava a sua forma sensível de perceber o mundo. Porém, o rei não tinha com quem compartilhar tanta beleza.
Era muito inteligente e fazia discursos maravilhosos, ensinando ao povo tudo que aprendera em sua vida de serviços a todos os habitantes de suas terras. Também tinha mania de colecionar coisas e gostava muito de caminhar por estradas calmas, onde podia contemplar a natureza.
Num desses passeios, o rei olhou para uma flor e viu que nela havia um brilho estranho. Aproximou-se mais um pouco e descobriu uma linda fadinha com asas brilhantes. Escondeu-se atrás de uma árvore e ficou ouvindo a fadinha contar histórias para um grupo de crianças que sentara na grama do jardim. Encantou-se com a sabedoria da fadinha e pensou que se ela estivesse em sua companhia não se sentiria mais sozinho porque teria sempre alguém para conversar e para compartilhar a forma mágica de estar no mundo.
Esperou a fadinha terminar a história, as crianças irem embora, caminhou até ela e a convidou para morar no palácio ao seu lado. Contou sobre as telas que pintava, sobre os livros que tinha em sua biblioteca, sobre seu prazer de conversar e, também, de contemplar as estrelas. Ficaram conversando, na mais perfeita harmonia, durante muito tempo. A fadinha sentiu que tinham muito em comum e resolveu seguir o rei.
Foram para o castelo e viveram felizes por toda a eternidade.
Mas, até a eternidade tem seu tempo...
O rei era um homem muito ocupado, pois tinha que cuidar de tudo que acontecia no reino: cuidava do povo, das terras, dos animais, das plantas. Quase não saía mais com a fadinha para pintar as belas flores do campo que viam pela janela de seu quarto. A fadinha não contava mais com sua presença nas refeições e comia sempre sozinha. Foi ficando triste, o brilho de suas asas foi ficando fraco, até que não agüentou mais a solidão e apagou sua luz.
A faxineira dos aposentos do rei não percebeu que a fadinha estava caída no chão, varreu toda a sujeira e colocou a fadinha junto com o lixo.
À noite, quando o rei chegou de mais uma de suas inúmeras reuniões, percebeu que a fadinha não estava à sua espera, como de costume. Procurou-a por toda a parte e não a encontrou. Pensou que talvez ela tivesse ido dar um passeio, já que fazia muito tempo que não olhavam as estrelas juntos. De repente, começou a lembrar que a tinha visto acabrunhada pelos cantos, que não ouvia mais sua risada e caiu em si: ele a tinha excluído de sua rotina tão cheia de compromissos e agora descobrira que ela havia ido embora. Como fora bobo! Como não percebera o tesouro que tinha ao seu lado?!
No outro dia, apesar do sol não ter mais o mesmo brilho para ele, pois estava sem sua fadinha, levantou-se e seguiu para a sua vida de rei poderoso. Soube, depois, que uma fadinha quase morta tinha sido encontrada por um simples camponês no meio de uma montanha de lixo. Esse homem cuidara da fadinha e ela recuperara o seu brilho e a sua alegria e agora eles viviam muito felizes numa casinha linda, cheia de flores e de histórias para contar.

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