26.12.10




Fotos: Roberto Arrais


Mais uma vez, final de ano. Um ciclo se encerra, outro se prepara para começar. No meu caso, realmente, uma verdadeira transformação. Troquei de pele. Deixo de ser psi e começo a vida como escritora. Nada mais difícil me aconteceu até agora. Como libertar a artista que habita em mim, se durante anos a mantive trancada, deixando apenas a razão ser aquela que me conduzia? Preparei tudo: mudança de casa, um lar cheio de árvores, flores, frutos e bichos, cheiro de natureza, melodia de pássaros, silêncio para criar em um espaço só meu, cercada de livros e das coisas que me fazem bruxa. Mas, cadê os textos? Só me chegam lágrimas de uma saudade de uma vida que tive, da vida que tenho e de uma outra que não sei se terei. Alterno entre uma tristeza profunda e uma alegria quase infantil. Leio, leio, medito, coloco água no jardim, cuido de todos e dos detalhes que tornam nossa casa um lar com o nosso jeito. Há tanto tempo sem cuidar de mim que acho que perdi o jeito.
O que mais me faz feliz? Ver a vida pulsando em meus filhos. São livres, de uma forma que nunca consegui ser. Quando me perdi da alegria?
Pessoa me revela que minha dor não pertence apenas a mim:

"Mais triste do que o que acontece
É o que nunca aconteceu.
Meu coração, quem o entristece?
Quem o faz meu?
Na nuvem vem o que escurece
O grande campo sob o céu.
Memórias? Tudo é o que esquece.
A vida é quanto se perdeu.
E há gente que não enlouquece!
Ai do que em mim me chamo eu!

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