18.2.11














Fotos: Roberto Arrais


5:30h. Acordo, abro a janela e deixo-me envolver pela melodia do amanhecer. Há uma verdadeira sinfonia sendo executada por cigarras, pássaros e outros insetos que não sei identificar. Minha cidade também vai despertando e, ao longe, vejo o sol, uma imensa bola amarela, iluminá-la, deixando-a envolvida numa luz dourada. Sinto o cheiro da terra orvalhada. As cigarras vão silenciando e os pássaros assumem a condução do som. Bem-te-vi, bem-te-vi. Também escuto o canto do galo. Bom-dia! Não apenas desperte, mas acorde para mais uma oportunidade de ser feliz. É assim que traduzo. Chega-me o mugido de uma vaca da vizinhança. Bom-dia! Calma. Entregue-se ao ritmo da vida. Escuto dessa forma seu Mooooommmmmmmmmmmmm! Mais galo cantando a oportunidade do dia nascer feliz! As árvores estão calmas. Hoje não dançam ao movimento do vento. As flores começam a se abrir. O pé de jabuticaba está carregado daqueles pontinhos pretos, doces, que me fascinam como os olhos lindos do meu marido. O jardim já recebeu a visita dos guinés, brancos e aqueles outros bem pretinhos e cheios de bolinhas brancas, iguais aos que se vê em desenhos animados e em toalhas bordadas para cozinha. Estão sempre em grupo e fazem questão de anunciar sua visita. Os pavões ainda não chegaram. Nunca mais vi a siriema por aqui. Na entrada da casa, roseiras, rosas e vermelhas, abrem seus botões perfumados e aveludados. As orquídeas, agora sobre troncos de uma mangueira que cansou de existir e se deixou ir ao chão, dão um ar de mistério à vida, tamanha sua beleza, pois que conciliam mistério e simplicidade. Também há pedras sertanejas e sinos, daqueles que se coloca em gado, pendurados no cajueiro que nos dá as boas-vindas. Numa das caqueiras nasceu um pau-brasil. Coisa de pássaros. Noutra, fizeram um ninho. Uma rã veio dormir em nosso quarto e Hércules estranhou sua presença. Na sala de jantar, uma borboleta enorme está passando uns dias. Cores, perfumes, gostos, texturas, enfim, diversidade, como na vida. Como a vida. Quem dera pudesse ter compreendido antes que a vida é para ser saboreada. Hoje me harmonizo com todos aqueles filmes, livros, músicas, poemas que falam sobre a magia de um jardim, sobre os segredos de uma mata, sobre a energia que emana da natureza. Completamente em sintonia com o Sagrado, agradeço. Sou abençoada. Lembrei-de de quem sou. Reencontrei o caminho daquele Amor que nos coloca no fluxo da seiva da vida. Bebo dela, estou nela, sou ela.
O sol já subiu mais um pouco e distribui seu calor com mais intensidade. Hora de descer e ir prepapar o leite dos meus filhos, coar o café e sentir aquele cheiro maravilhoso tomar conta da casa, esquentar pão com manteiga, fazer suco de laranja e acordar a família para mais uma refeição à mesa, numa interminável roda de conversas. Feliz, muito feliz, com a vida que sonhei para mim. Simples assim.

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