16.6.10

Acabei de chegar do filme Cartas para Julieta. Pensei que seria mais uma história romântica, tipo água com açúcar, que adoro. Mas o filme tocou em pontos que me são caros.
Um amor da adolescência pode seguir pela vida afora, guardado no coração, e, depois de 50 anos re-surgir com força total e possibilitar o encontro por toda a vida dos amantes separados por tanto tempo?
Atá quando a vida esperará, pacientemente, que acordemos do estado de dormência e alienação que nos colocamos para nos escondermos de nossos próprios sonhos?
Como sabermos que aquele amor, que pensamos perfeito, não poderá ser levado adiante porque o nosso suposto amado não nos enxerga de verdade, não conhece os segredos que guardamos em nossas almas?
O que precisa acontecer para que vivamos a verdadeira vida que temos que experienciar aqui na Terra? Como descobrir qual o caminho a ser seguido nesta jornada?
Tive um amor, um grande amor, na adolescência e o guardo até hoje num lugar muito especial do meu coração. Não o vejo há quase trinta anos, apesar de morarmos na mesma cidade. Hoje, vivo plena e feliz ao lado de um outro amor e rogo para que ele também esteja bem. Ainda gostaria de encontrá-lo, conversar sobre os caminhos que trilhamos e sobre o que aprendemos durante todo este tempo. Quem sabe se a vida não me trará este presente?!
Desde a infância que sou louca, completamente apaixonada, por livros. Adoro o cheiro, a textura, a aventura e o mistério prontos para serem revelados a partir do meu encontro com eles. Tenho ainda minha máquina de escrever laranja e a guardo num lugar de honra da minha casa. Entro em transe quando me deito para ler, enrolada em lençóis e travesseiros. Se estiver na rede da casa da praia, então, fico em dúvida se estou na Terra ou no Paraíso. Em todos os cantinhos que habito há livros espalhados por todo lado. Mas, o que me impede de ser escritora, de viver para a escrita? Já publiquei livro infantil, já participei de coletâneas, porém, não tenho uma rotina de escritora. Trabalho em consultório, cuido da família e das muitas casas que possuo, e, quando vejo mais uma semana se foi e não coloquei no meu cotidiano a escritora que mora em mim e que está presa, acorrentada em algum cômodo escuro de minha alma.
Quando era uma mulher das ciências exatas e desejei ser psi, fui fazer faculdade de Psicologia. Mas para ser escritora não há uma universidade. Posso até fazer alguns cursos, oficinas, participar de grupo, ler livros que discutem o ofício. Porém, as palavras têm que vir lá de dentro. Ninguém pode fazer esse trabalho por minhas mãos. Fui buscar na criança qua habita em mim as respostas para essas perguntas. Descobri que durante muito tempo ela foi a boazinha, a que fazia tudo para agradar as outras pessoas, a que ouvia as amigas, a que dava conselhos. Esta sua postura perante a vida, fazia com que não tivesse voz, não expressasse seus desejos, seus sonhos e medos, pois funcionava para os outros apenas como um objeto de projeção das necessidades desses outros, que não se importavam com o que sentia e pensava de verdade. Fora destinada ao silêncio. E ela, a criança, continuava lá, quieta, calada, com medo de se expor e ser rejeitada. Descobri que precisava libertar essa criança, que precisava fazer-lhe gritar seus sentimentos. Ainda não sei direito como fazer, trato-a com carinho e a conduzo com cuidado para a luz, pois sei de sua fragilidade. Pensei, então, que também poderia aprender com a que ainda serei. Só que nesse caso a situação é um pouco mais complexa, pois a que serei só habita o mundo das possibilidades e, portanto, não há uma única e, sim, tantas quantas possibilidades existirem. Resolvi conversar com a escritora. Amei-a logo de cara. Feliz, livre, com um cotidiano que adorarei viver. Lê e escreve diariamente, tendo seu cachorro como companhia. Não gosta muita de participar de feiras, concursos e lançamentos, mas conta com uma equipe que há apóia nessas situações. Mora numa casinha linda, bem pertinho da mata. Isto durante uns dias na semana, porque em outros se refugia na praia e toma deliciosos banhos de mar. Medita, caminha, pinta, cozinha, costura, cuida do jardim. Irradia uma enorme alegria. Também conheci a outra que serei, aquela que não teve a coragem de dar o salto e se tornar escritora. Vive bem, até. Mas nos seus olhos há um quê de saudade, de tristeza, de fracasso, por não ter manifestado aqui tudo que poderia ter feito. Vai levando a vida. Esta última me olhou e me perguntou:
- Por que você me traiu? Por que me condenou a uma vida sem significado?
Saí desse encontro arrasada e descobri que se não me tornasse uma escritora arruinaria a vida que tenho. Voltei para aquela feliz e perguntei o que teria que fazer para escolher o caminho certo, para seguir minha vocação, para escutar o chamado:
- Comprometa-se. Se esse é o sonho da sua vida, se é para isso que você nasceu, o quanto de si você está dedicando a este projeto? Quanto vale a sua verdadeira vida? Pense nisso e distribua o seu tempo de acordo com sua resposta. Foi exatamente assim que fiz e hoje sou plena.
Voltei novamente para o aqui e agora e agradeci a sabedoria da que serei.
Fiquei pensando em como o Universo tem seus próprios métodos para nos despertar para a nossa Verdade, pois usou um filme inocente e provocou em mim uma completa noite de encontros. Até que não estou tão perdida assim, pois no que se refere ao amor, não tive medo de mostrar o novo amor que surgiu em meu coração e me despi completamente. Deu certo. Estou feliz, muito feliz. Agora sei que meu próximo desafio será Doida? Feliz!, o título do livro que logo, logo, vocês encontrarão nas livrarias.

Um comentário:

Louise Anne Vieira de Menezes disse...

Será que o mundo está ganhando uma escritora e perdendo uma psicóloga????????
Não importa, seja aonde for, sua essência ficará no coração de cada um que teve a felicidade de ter lhe encontrado em algum caminho da vida.
Beijos, DEUS a abençoe.