13.4.11

Viagem ao Chile - parte 2

Depois de tomarmos café, fomos de metrô atá a Bella Vista, bairro boêmio, onde está a casa de Pablo Neruda. Caminhamos pela rua Pio IX – tão longe e tão perto do Piauí – chegamos ao Parque Metropolitano, onde há também o zoológico. Estava tão ansiosa com a visita à Neruda que nem quis conhecer o parque naquele momento. Fomos andando e logo nos deparamos com a casa do Capitão Neruda, uma casa em forma de barco. O poeta amava e temia o mar.
Estou na casa de Neruda. Emocionada... Linda, com vidros e janelas que a colocam na natureza. Muitos jardins. Pássaros cantam. Há um perfume no ar. Flores? Frutas? O silêncio é mágico. Faz-me lembrar do paraíso em que vivemos agora e que tem a mesma energia deste lugar. Aqui Neruda escreveu, inspirado pela paz reinante. Conseguirei eu também escrever, tendo como refúgio meu paraíso? Roberto está feliz, registrando tudo com sua máquina fotográfica. Calça de boy, tênis, mochila nas costas, parece um menino. É verdade que seu agasalho e sua calça são de uma loja chique, mas ele, comunista que é, nem sabe disso. Fica lindo seu olhar de criança a descobrir coisas novas.
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Depois da visita, onde também encontramos Vinicius de Moraes, Luis Carlos Prestes, Jorge Amado, sentamo-nos num café entre as árvores que acompanharam a vida do poeta e ficamos capturados pela magia da experiência.
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Escrevendo, agora, nos jardins de Neruda, depois de conhecer sua mágica casa. Sinto-me mais íntima do poeta. Conheci os ambientes em que viveu, suas salas, quartos e banheiros. O lugar que criou para imaginar-se sempre como capitão de um navio em alto mar. Cada objeto da casa tem uma história para contar. Há recordações de todas as partes do mundo. Muitos objetos de arte. Neruda tinha a intenção de surpreender seus convidados. Vários ambientes com mesas e louças diferentes para vivenciar sua boemia. Muitas coisas nas entrelinhas, figuras escondidas em pinturas, como num quadro em que está retratada sua amante Matilda e que em seus cabelos há, disfarçado, o perfil de Neruda, mantendo, assim, o segredo desse amor proibido. Na janela do seu quarto há uma grade com um desenho que representa as iniciais dos dois amantes (P e M), onde o poeta dizia que ela era as montanhas, ele a lua, sendo os dois unidos pelo mar. Já no quarto dela, a grade representa um sol ou uma flor ou, ainda, sua descabelada amada. Em sua biblioteca particular há uma maquete com o projeto de sua futura casa – que não chegou a construir. Sempre criando casas, ambientes com arte, formas diversas de expressar o poder criativo que corria em suas veias.
Identifiquei-me muito com o artista, tanto na criação de casas e ambientes, como na paixão pelo contato com a natureza. “Sua casa não tem um estilo”, disse-nos o guia, assim como nossas casas também não têm. As mesas de Pablo têm louças lindas e taças sempre muito coloridas. Comprava-as em suas viagens pelo mundo. Este foi um outro ponto de identificação minha com o poeta. Adoro mesas bem postas, tudo combinando em harmonia, detalhes carinhosos para receber os convidados, cores que embelezam o simples encontro de pessoas queridas.
A casa de Pablo não pode ser fotografada. Uma pena! Mas, também, não daria para capturar em fotografias a sensação de entrar em sua sala de leitura com um desnível no teto e no solo para que possa proporcionar a vertigem do balanço do mar. Detalhes de um gênio.













Fotos: Roberto Arrais

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