19.4.11

Viagem ao Chile - parte 5

Aniversário de Ricardo... Saudade dele...

Acordamos cedo, organizamos o café e nos preparamos para sair. Pedimos ao recepcionista do hotel informações sobre locais de câmbio, pois precisávamos trocar U$ 50.00, já que não tínhamos $ nem para o metrô. Informou-nos que tudo estava fechado, era domingo, e chamou, por telefone, Sebastian, o responsável por nosso flat. Trouxe-nos os pesos e seguimos para o Museu da Memória e dos Direitos Humanos, pagando uma única passagem de metrô (metrô Los Leones, metrô Baquedano (combinacion), metrô Quinta Normal), com entrada grátis no museu.
Ele foi um presente da última presidenta chilena ao seu povo, resgatando a verdade de sua história no golpe militar de 1973. A arquitetura do prédio é belíssima, com espaços para exposições, teatro, estacionamento, facilitando seu acesso o fato de ser na própria estação do metrô Quinta Normal. Na entrada há um gigantesco painel com o último poema escrito por Victor Jara, no estádio em que foi assassinado, salvo porque seus companheiros partiram o papel em pedaços – cada um ficou com um trecho – que depois foram entregues a sua viúva (o poeta foi torturado, teve suas mãos quebradas – para que não tocasse mais violão -, e assassinado pela ditadura militar). Deixamos bolsas e mochilas e seguimos a visita orientada por um excelente guia. Vimos fotos de pessoas ao redor do mundo que têm os seus direitos violados – estas fotos formam um painel com o mapa mundi. Há também a representação dos países que têm suas Comissões de Verdade, onde se busca resgatar a verdadeira memória daqueles que desapareceram, foram torturados ou assassinados por ditadores em todo o mundo. Robertos entiu falta da representação do Brasil. Em outra instalação há fotos dos monumentos que homenageiam os heróis da resistência à ditadura de Pinochet e que estão espalhados por todo o país. No Chile há uma política de reparação às vítimas, com financiamentos de casas, assistência médica – inclusive psicológica -, capacitação profissional. Tudo que se conta no Museu é baseado em documentos históricos, relatos de pessoas envolvidas, informações resgatadas, cruzadas e sintetizadas pela Comissão de Verdade do Chile.
A visita é extremamente emocionante, com vídeos trazendo imagens reais e depoimentos das vítimas ou de seus familiares. Há o discurso de Allende, o bombardeio de La Moneda, os tanques nas ruas, os direitos humanos sendo violados nas ruas e nas casas de tortura, com descrição detalhada das técnicas usadas pelos militares, que não consigo registrar aqui. O povo chileno lutou, percebeu a enorme manipulação dos meios de comunicação e se organizou na clandestinidade para o retorno da liberdade ao seu país. A participação das mulheres chilenas foi fantástica. Dançavam o folclore com lenços com os rostos dos desaparecidos, usavam a arte da tapeçaria para denunciar a absurda violência que imperava no país. Chorei muitas e muitas vezes durante a visita, assim como Roberto, mas um dos momentos mais emocionantes é o que retrata o sofrimento das crianças chilenas neste triste período. Há desenhos, cartas, fotografias e depoimentos. Por várias vezes tive medo de desmaiar, pois me sentia sem ar, sufocada, com um aperto no peito, tudo travado. É difícil ver a crueldade humana. Além disso, um processo muito semelhante ocorreu em meu país. Eu tão alienada à época. Será que também não estou sendo omissa agora, quando ainda há tanto por que lutar? Aliviou um pouco a minha angústia quando chegamos ao setor do fim da ditadura, onde vídeos mostravam a alegria do povo nas ruas e a posse do novo presidente. Daí seguimos para uma instalação belíssima que retratava as vítimas deste processo doloroso num jogo de luzes, de claro/escuro, que nos coloca como participantes desta luta. No lado externo do pátio do Museu há painéis com a Declaração dos Direitos Humanos e na área reservada às crianças há a Declaração dos Direitos das Crianças.
No final da visita registrei algumas observações no Livro de Memória: o que levaria um irmão a torturar e matar um outro, seu compatriota? quão grande é o poder de manipulação dos meios de comunicação? até quando vamos permitir que o governo norte-americano explore economicamente, manipule, torture e viole os direitos dos povos ao redor do mundo sob a máscara da defesa da democracia e dos direitos humanos? Isso dá uma raiva enorme! Provocam guerras em outrso países, destroem nações, mas em seu solo reina a paz e a abundância, às custas das guerras e da pobreza que disseminam. O meu consolo é que há uma justiça maior e que tudo é energia que segue a lei do bumerangue: o que vai, volta. Já começamos a sentir as consequências de tanta exploração quando vemos as crianças africanas só na pele e no osso e a obesidade doentia das crianças norte-americanas. Depressões, corações doentes, taxas corporais descontroladas. A economia do imperialismo ruiu. Claro lá que algo mudou. Elegeram um presidente negro, com ascendência mulçumana!
Depois da visita tomamos um café e seguimos para o Festival do Abraço, no Parque O’Higgins, organizado pelo Partido Comunista e pelas forças de esquerda.





Fotos: Patrícia e Roberto Arrais

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