23.4.11

Encontrando o xamanismo siberiano - parte 3

5. Viajando para a Sibéria – Diário de uma aventura


Estamos no avião, indo de Recife para São Paulo, cumprindo a primeira parte de nossa viagem. A nossa energia é de muita alegria. Estamos ansiosas... O que nos espera em Altay? Quais serão nossas transformações?
Fiquei pensando no percurso da minha vida. Tudo começou há muito tempo. Lembro-me da minha solidão infantil, dos momentos em que ficava pensando em algo que não sabia definir; choro emocionada. Desde pequena sinto a espiritualidade muito presente na minha alma. Tenho a lembrança de uma amiga da minha mãe ter comentado que apesar de eu ainda ser criança, eu era uma pessoa muito iluminada. Profecia? Percepção?
Catolicismo... Espiritismo... Espiritualidade... [que sono]
[...]
Já estamos voando em direção à Suíça. Nem acredito direito que estou indo para a Europa! Sonhei com essa viagem por tanto tempo... Percebi que não devemos adiar a realização de um sonho, seja qual for o motivo. Aprendi que podemos realizar qualquer coisa se a nossa Alma também está nesse desejo. Porém, aprendi que às vezes o que imaginamos como espetacular é algo bem simples. Com certeza, a felicidade está nas pequenas coisas, na nossa busca espiritual.
É tão bonito como percebo a vida agora! Sinto-me fazendo parte de uma grande teia, onde tudo está interligado. Não me sinto mais levando a teia, mas tecendo apenas o meu fio e, assim, construindo a teia junto com outras pessoas.
No meu coração sinto a energia amorosa do Universo e isso me dá forças para me curvar e louvar o milagre da vida e, ao mesmo tempo, dá-me a noção da minha insignificância diante do milagre e do mistério que é viver.
Quando era criança adorava ler livros sobre Atlântida, os egípcios, os maias, os incas, os astecas; nunca consegui estudar ou ver filmes sobre as guerras, o nazismo, os escravos. Memórias de vidas passadas?!
Perceber-me diferente e sozinha nessa diferença, trouxe-me muita dor. Vida espiritual intensa [pausa para o jantar, fila para o banheiro, tudo apertado e ainda falta tanto... ir à Europa não é tão divertido] e intelectual com facilidade. É bom ser inteligente, mas quando se é muito, fica-se com um sentimento de não pertinência...
O pôr-do-sol foi lindo. Tons de laranja cobriam o céu e o negro da escuridão, aos poucos, vinha dominando tudo. O branco das nuvens é tão luminoso. Será que o Céu é assim?
Agora já é noite. A estrela solitária do final da tarde ganhou mais companhia; são vários pontos de luz que iluminam a escuridão do Universo. Emociono-me por estar mais perto delas e da lua, que reina como uma deusa linda, mostrando-nos que tudo é impermanente.
Diante de tudo isso, sinto uma enorme saudade de casa e percebo como amo meu marido, meus filhos, meu pai, meus parentes e amigos, meu cachorro. A partir dessa descoberta óbvia, vou redimensionar minha rotina. Quero mais tempo para sair com meu marido, mais energia para fazer amor. Quero ficar mais com meus filhos, vendo filme, comendo pipoca e brigadeiros, lendo livros, passeando. Quero estar sempre em casa na hora das refeições para que possa compartilhar da presença dos meus entes queridos, especialmente do meu pai. Quero mais chás da tarde com amigos. Quero cuidar da casa, de flores e da cozinha. Quero tempo para escrever meus livros, para meditar e fazer ioga. Como conciliar essa minha essência com o meu trabalho, como Psicoterapeuta e Professora, com o Mestrado/Doutorado, com Roger, com Xamã? Quero ganhar muito dinheiro, quero abundância. Quero nossa linda casa de Gravatá. Quero viajar com minha família. Quero ser feliz com eles!!
Agradeço ao Universo pela oportunidade de desenvolvimento e de serviço ao Deus do Amor. Namastê!
[...]
Hoje, 27 de março de 2003, já estamos na Suíça, saindo agora para Moscou. A própria viagem já é uma prática espiritual, pois é muito cansativa. Ainda temos muito chão.
Se o pôr-do-sol foi lindo, o nascer do dia foi magnífico!!!!!!!! O céu azul e laranja sobre os Alpes Suíços cobertos de neve. Foi um escândalo!!!!!! Obrigada!
Quando o avião pousou, emocionei-me: estou na Europa. É tão estranho. Poder ver os pinheiros reais de Natal, as casinhas de telhado em pé para não acumular neve... Percebi, claramente, que o tempo, o espaço, tudo é relativo. Aqui são 10h, em Recife são 6h e a minha família se prepara para as atividades de um novo dia. Eu, em trânsito, onde estou? a que mundo pertenço?

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