Uma coisa que chamou nossa atenção foi a agressividade na aborgagem ao turista: no aeroporto, na rodoviária, em Valparaiso. No Morro Santa Lúcia fomos abordados por um casal que nos ofereceu poesia. Diziam-se estudantes e que não tinham dinheiro para pagar o último período da faculdade. Demos $1000, acharam ‘mui pouco’, pediram mais, mostramos que só tínhamos o dinheiro da volta do metrô, pediram reais. Muito desagradável. Às 20h estávamos no hotel, conseguimos pagar com cartão de crédito e fiquei com pena de não termos usados os dólares – resto da viagem de Roberto ao Japão – para uma visita à Coordilheira. Tomamos o resto de nossa caixa de vinho, comemos o resto de nosso pacote de bolacha e ficamos lendo e conversando sobre nossos escritos. Antes disso, enquanto estava deitada, não sei se sonhando ou em transe, vi um poema inteiro se formar em minha mente. Levantei-me, em silêncio, para as palavras não irem embora, e o coloquei no papel. Durante a madrugada acordei com mais alguns na cabeça e me levantei para escrevê-los. Aproveitei para me despedir da Cordilheira, da cidade. Peguei meu casaco, abri a porta da varanda e pude ver as estrelas e escutar a canção do Mapuche, mais uma vez. Senti saudades. Agradeci a troca energética e sabedoria compartilhada. Fui dormir.
Destino
Na origem, o ovo.
Abastecida, alimentada, protegida.
O Todo
No caminho, o ninho.
Acompanhada e quieta.
A Falta.
O destino, o voo.
O Nada.
Solitária e livre.
Abrir as asas e ir às alturas.
Coordilheira
Quieta.
Lua chamou.
Estrela cantou.
Folha caiu.
Seguiu-a.
Vento ficou frio.
Abriu os olhos.
Sentiu a imensidão.
Viu a majestade.
Estava nua.
Com as pontas dos dedos,
conheceu seus segredos.
Piscou.
Ainda lá?
Receio de ir.
Voltar a ser o que sempre fora?
Pequena.
Contemplara o silêncio.
Transformara-a.
Caminho sem volta.
Em que direção?
Liberdade.
O mar
E
vai
e
volta.
E
vai
e
volta.
E
vai
e
volta.
Dissolve-se
em partículas
no ar.
E canta.
Música compassada,
repetida.
Sinfonia que traga.
Vai-e-vem que enfeitiça.
Nada
é para sempre.
Lugar
é imensidão.
Tempo
é eternidade.
Ser feliz
é agora.
E
vai
e
volta.
E
vai
e
volta.
E
vai
e
volta.
Neruda
Fecho os olhos.
Sonho.
Vejo o futuro.
Começo a criação.
Espalho brinquedos.
Pinto cores.
Invento sons.
Crio cheiros.
Planto vida.
Coloco o que me é caro.
Cada coisa em seu lugar.
Abro os olhos.
A obra está pronta.
Já estou no futuro.
Fecho os olhos.
Sonho.
Vejo novo futuro.
Começo a criação.
Dia de ir embora. Acordamos, café da manhã, mala, documentos. Banhos. Fechar mala. Até breve!
Fotos: Patrícia e Roberto Arrais
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