19.4.11

Viagem ao Chile - parte 7

Acordamos, tomamos nosso ‘tradicional’ café e descemos para trocar U$. O banco, ao lado do hotel, só troca a partir de U$100.00 e queríamos apenas U$60.00. Na loja da galeria da estação do metrô Los Leones fizemos o câmbio e voltamos para o hotel para nos encontrarmos com Pedro, o responsável pelo pagamento de nosso quarto no flat. Como a máquina estava quebrada, combinamos para as 20h. Fomos de metrô para a Estação Santa Lúcia. Visitamos o Arquivo, a Biblioteca Nacional e vimos o Teatro, que está em reforma. Seguimos para o Morro (Cierro) Santa Lúcia, um espaço com muito verde e castelos. Há muitas fontes espalhadas pela cidade e as pessoas as utilizam para banho. Este Parque é municipal e estava cheiod e guardas. A manutenção do mesmo deixa a desejar. A entrada é gratuita e é uma das poucas opções para as segundas-feiras (Lunes). Aqui existe um Centro Cultural Indígena que vende objetos de várias partes do país. Fizemos a visita sem pressa. Eu estava muito mole, já gripada, e o corpo todo doía. De lá seguimos a pé até a estação de Baquedano para tentarmos comprar nosso Don Quixote, de bronze e cobre. A caminhada foi rápida e tivemos o prazer de conhecer o Parque Florestal. Conseguimos achar a loja e compramos nosso herói sonhador que, em muito, pode ser o símbolo de Roberto Arrais. Metrô para casa. Almoçamos o mesmo menu do café da manhã, fomos para a piscina e Roberto tomou mais um banho, desta vez sob sol fortíssimo. Voltamos para o quarto, descansei, ele escreveu e seguimos para um passeio pela Providencia, em busca de um café. Acho que o melhor é o café Lyon, onde fizemos nossa primeira refeição, mas optamos por outro para conhecer coisas diferentes. Estávamos numa mesa e dois amigos em outra, mais próximos da rua. De repente, um galho imenso da árvore caiu sobre a cabeça de um deles. Foi gente, copos de cerveja, cinzeiro, mesa e cadeiras para todo lado. Tomamos o maior susto. A municipalidade foi avisada e logo, logo, chegou um carro para apurar o desastre. Depois do café e dos sanduíches ($5000), fomos dar uma volta pela Parque das Esculturas, bem na esquina de nosso hotel. Eram quase 20h e encontramos muitos casais deitados na grama, um em cima do outro, aos beijos e abraços, em plena luz do dia. Homens com homens, mulheres com mulheres. Viva o amor!
Uma coisa que chamou nossa atenção foi a agressividade na aborgagem ao turista: no aeroporto, na rodoviária, em Valparaiso. No Morro Santa Lúcia fomos abordados por um casal que nos ofereceu poesia. Diziam-se estudantes e que não tinham dinheiro para pagar o último período da faculdade. Demos $1000, acharam ‘mui pouco’, pediram mais, mostramos que só tínhamos o dinheiro da volta do metrô, pediram reais. Muito desagradável. Às 20h estávamos no hotel, conseguimos pagar com cartão de crédito e fiquei com pena de não termos usados os dólares – resto da viagem de Roberto ao Japão – para uma visita à Coordilheira. Tomamos o resto de nossa caixa de vinho, comemos o resto de nosso pacote de bolacha e ficamos lendo e conversando sobre nossos escritos. Antes disso, enquanto estava deitada, não sei se sonhando ou em transe, vi um poema inteiro se formar em minha mente. Levantei-me, em silêncio, para as palavras não irem embora, e o coloquei no papel. Durante a madrugada acordei com mais alguns na cabeça e me levantei para escrevê-los. Aproveitei para me despedir da Cordilheira, da cidade. Peguei meu casaco, abri a porta da varanda e pude ver as estrelas e escutar a canção do Mapuche, mais uma vez. Senti saudades. Agradeci a troca energética e sabedoria compartilhada. Fui dormir.



Destino

Na origem, o ovo.
Abastecida, alimentada, protegida.
O Todo
No caminho, o ninho.
Acompanhada e quieta.
A Falta.
O destino, o voo.
O Nada.
Solitária e livre.
Abrir as asas e ir às alturas.


Coordilheira

Quieta.
Lua chamou.
Estrela cantou.
Folha caiu.
Seguiu-a.
Vento ficou frio.
Abriu os olhos.
Sentiu a imensidão.
Viu a majestade.
Estava nua.
Com as pontas dos dedos,
conheceu seus segredos.
Piscou.
Ainda lá?
Receio de ir.
Voltar a ser o que sempre fora?
Pequena.
Contemplara o silêncio.
Transformara-a.
Caminho sem volta.
Em que direção?
Liberdade.


O mar

E
vai
e
volta.
E
vai
e
volta.
E
vai
e
volta.
Dissolve-se
em partículas
no ar.
E canta.
Música compassada,
repetida.
Sinfonia que traga.
Vai-e-vem que enfeitiça.
Nada
é para sempre.
Lugar
é imensidão.
Tempo
é eternidade.
Ser feliz
é agora.
E
vai
e
volta.
E
vai
e
volta.
E
vai
e
volta.



Neruda


Fecho os olhos.
Sonho.
Vejo o futuro.
Começo a criação.
Espalho brinquedos.
Pinto cores.
Invento sons.
Crio cheiros.
Planto vida.
Coloco o que me é caro.
Cada coisa em seu lugar.
Abro os olhos.
A obra está pronta.
Já estou no futuro.
Fecho os olhos.
Sonho.
Vejo novo futuro.
Começo a criação.


Dia de ir embora. Acordamos, café da manhã, mala, documentos. Banhos. Fechar mala. Até breve!

 








Fotos: Patrícia e Roberto Arrais


Nenhum comentário: