18.11.06

Pobre menina


Era uma vez uma menina que morava numa casinha pequena no meio de uma floresta. Vivia com seu pai e seus dois irmãos. Sua mãe já tinha morrido. A menina, que era a mais velha dos três irmãos, acordava muito cedo e trabalhava o dia todo cuidando da comida e da limpeza da casa. Sua irmã era muito preguiçosa e gostava de passear pela floresta, indo sempre para o lago para poder se ver refletida nele. Seu irmão ainda era muito pequeno e não podia ajudar nos trabalhos da casa, mas a sua alegria deixava todos com um sorriso no rosto.
A menina também cuidava do pai, que era doente, das plantas e dos animais que moravam na casa – um cachorro e dois pássaros. Todos os dias, logo cedo, ia buscar água na fonte e lenha no meio da floresta. Preparava a comida, lavava as roupas, arrumava a casa. Mal tinha tempo para um banho e para descansar um pouco. Às vezes, quando estava muito cansada, chorava baixinho para que ninguém notasse. Sentia-se muito sozinha e sonhava com um colo, onde pudesse descansar e ter alguém para também cuidar dela.
Sua pele estava seca, seus cabelos sempre em desalinho. Suas roupas eram velhas e remendadas, pois o dinheiro era pouco e seu pai precisava de remédios, seu irmão precisava de livros para ir à escola e sua irmã gastava muito com roupas novas, já que vivia esperando por um belo príncipe que iria tirá-la daquela situação.
Existia, porém, um segredo que a menina não contava para ninguém: ela conseguia conversar com as plantas e com os animais, ouvia o que eles diziam e eles também ouviam e entendiam o que ela dizia e até adivinhavam o que não dizia, mas sentia.
Quando o sol ia baixando na linha do horizonte, preparando-se para descansar, e a lua surgia com todo o seu brilho, a menina corria para o seu local preferido na floresta, o galho de uma mangueira, e se sentava lá apreciando o espetáculo da natureza. As estrelas do céu brilhavam tanto e piscavam tanto que se transformavam numa linda sinfonia, música que só a menina ouvia. Depois deste momento só seu, a menina voltava para casa com novas forças para enfrentar a sua difícil vida.
Num certo dia, sua irmã a seguiu, pois sempre ficava curiosa para saber o porquê de a menina voltar para casa tão feliz quando ia para a floresta ver a lua nascer. Ficou escondida atrás das árvores e ouviu sua irmã conversando com os seres da natureza. Ficou morrendo de inveja e tramou um plano para acabar com aquela alegria toda.
Saiu correndo e disse que a menina estava ficando louca, que a tinha visto com demônios, falando sozinha no meio da floresta. A notícia logo se espalhou pela aldeia. Vizinhos vieram ver a menina louca que falava com os animais e com as plantas.
A pobre menina não conseguia compreender porque as pessoas a estavam chamando de louca e reafirmava que compreendia todos os seres da natureza.
O chefe da aldeia, com medo que a loucura se espalhasse por todas as outras mulheres, resolveu acabar com o poder dos demônios e queimou a menina numa enorme fogueira, clamando para que os deuses do bem vencessem os demônios do mal. Nessa hora, o espírito de sua mãe veio e a levou nos braços para o céu.O pai e o irmão da menina ficaram tão tristes e com tantas saudades que morreram logo depois. A irmã invejosa ficou feliz, esperando pelo seu belo príncipe.

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